O MITO DOS KATANAS

O MITO DOS KATANAS 
Muita bobagem tem sido dita e escrita sobre pretensas virtudes mágicas do aço empregado em lâminas japonesas antigas. Elas têm grande valor artístico e histórico como itens colecionáveis, algumas sendo lindos exemplos de esforço, perícia e habilidade de seus forjadores e polidores.

Sob o ponto de vista estritamente técnico, seu aço não é algo que  pode ser comparado a um aço-carbono moderno. Sabemos os detalhes de sua difícil obtenção, tratamento e acabamento.Por essas dificuldades e pela maestria de seus mestres forjadores é que uma boa lâmina japonesa antiga deve ser admirada, reverenciada e valorizada.

Os aços modernos de boa procedência são 99,99% puros, com distribuição uniforme de carbono e ainda com a adição de outros componentes que os melhoram. Quando laminados a quente, seu grão é adequadamente diminuído, na maioria dos casos isto é suficiente para o uso em Cutelaria.

Em termos técnicos, podemos afirmar com toda certeza que aços modernos de boa procedência e com o adequado teor de carbono para o fim a que se destinam são, no mínimo, 100 vezes melhores que os melhores aços de séculos passados.

Desde o Japão feudal e até o final da Era Meiji (1868-1912), o minério de ferro considerado adequado para o aço de lâminas era obtido através de sua extração de uma areia de rio chamada satetsu, de cor negra. Por esse método de extração, se obtinha apenas cerca de 1% de minério de ferro, e ainda de forma muito impura para compor aço,era na realidade óxido de ferro (Fe2O3).

Desse minério de ferro era necessário retirar o oxigênio e acrescentar carbono. O que ocorria através de sua fusão usando carvão de pinho. Resultando no  tamahagane, uma massa de aço, ainda impuro e com conteúdo variado de carbono em diversos pontos.

No Japão daquela época, a única forma conhecida para purificar e homogeneizar tamahagane era através da forja e  dobradura. Pelo aquecimento a 1.300ºC, com o martelamento e dobradura, boa parte das impurezas era expelida e os cristais de carbono tornavam-se menores, propiciando sua melhor distribuição, até chegar a um aço de grão mais fino e conteúdo final, com cerca de 0,7% de carbono.

O hamon, ou linha padrão de têmpera, visto nas lâminas japonesas originais é um tipo de tratamento térmico que usa argila para isolar determinada área do calor, com o intuito de obter têmpera seletiva. Ele não tem nada de mágico ou de melhor em relação a outros tratamentos térmicos consagrados quando bem feitos, quer antigos ou modernos.

O fato das antigas lâminas japonesas terem um núcleo de aço mais mole não é garantia de absoluta de flexibilidade, sendo usado apenas como um simples recurso, pois que não existiam nem aços 99,99% puros e nem tampouco processos plenamente controláveis de elevação e manutenção de temperatura, tanto no momento da têmpera quanto do revenimento. 

Usando tamahagane, forjando com perfeicão e dando o tratamento térmico adequado, uma lâmina assim constituída somente revelará a textura do aço e o hamon com o trabalho do togishi, ou artista  polidor que utiliza técnicas apuradas  aprendidas ao longo de anos de estudos e treinamentos (veja o post: Você ainda pensa que sabe polir uma lâmina?).

Experts que  analisaram em detalhes um número razoável de lâminas japonesas antigas sabem que a ocorrência de kizus (falhas ou defeitos), a maioria fissuras de forjamento, é mais comum e em maior número do que supõem os leigos, existindo as vezes em grau mínimo, em cerca de 80% das lâminas.

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